quarta-feira, 6 de março de 2024

Colors of the wind

Epifanias sempre me ocorrem durante expediente de trabalho home office, é impressionante. Talvez porque durante esse tempo eu esteja pensando tanto em diversas outras coisas que eu queria verdadeiramente estar fazendo, mas não sei que diabo de mão invisível me segura e me impede de COMEÇAR qualquer coisa que fuja da minha rotina capenga e desmotivada de trabalho em escritório.
Esses dias eu andei arrumando meu quarto e arranquei um postit da minha parede que dizia "sinto falta de ser criativa".

Uma das poucas certezas que eu tenho na vida é que eu gosto muito de criar. Tudo das esferas criativas e artísticas me ilumina os olhos, ainda que eu não tenha parado pra me aprofundar em alguma área específica. Arquitetura foi uma profissão que eu me envolvi muito ingenuamente crendo que abarcava essas minhas preferência em um ramo prático do mercado de trabalho. Acabou que não é bem assim, ainda que muitos arquitetos se considerem de alguma forma artistas, ou expressem arte em outras áreas da vida além da profissão formal. Mas justamente, não é a arquitetura que norteia isso, é o seu gosto por arte que de repente se encaixa em alguma vertente de atuação. No meu dia a dia, eu só detalho e especifico desenhos técnicos, nada autoral.

Já fui de desenhar, já comecei a aprender piano, costumava criar histórias e mais histórias, ler muitos livros de fantasia, criei este blog. Sou viciada em ver séries, animações, filmes, trilhas sonoras me captam de maneira quase espiritual, é ouvindo uma delas que me veio a inspiração de escrever esse texto.

Como ja relatado anteriormente, ando num vale de confusão sobre como ando vivendo. Mas agora, neste momento, senti um pequeno respiro de inspiração diante de uma música, de um desfile de moda, de um sketch de estilismo, de um croqui sem compromisso feito por um artista que eu gosto. 

Arte. Criação. 

Eu tenho que lembrar disso, e lembrar que essa é a luz que pode clarear caminhos tortuosos.

Mas como sempre, me falta começar. 

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

A test of my patience

Eu sou um fracasso

Certamente isso não é verdade, também não tenho exata clareza sobre qual a métrica pra considerar numericamente quanto alguém prosperou ou deu errado na vida, nem tem que ter uma né, até porque a vida é algo rolando ao vivo, todo dia tem algo pra somar (ou diminuir?)

Mas o sentimento que eu tenho corriqueiramente anda sendo esse. O de que eu não faço as coisas da melhor forma, não penso as coisas certas, que talvez esteja sendo injusta, egoísta, que não consigo me organizar em nada, focar em nada, não sei o que eu preciso buscar ou ansiar, que nada me motiva de verdade. Ao mesmo tempo em que eu encaro um enorme vazio pessoal, não faltam ruídos na cabeça, dia após dia subindo 1 degrau e descendo 3 se o bem estar e a confiança no que eu faço fossem encarados figurativamente como uma torre, ou um poço.

Existem algumas fases do desenvolvimento humano que servem pra construir caráter, personalidade, traços de comportamento e tudo mais, e acho que nessas fases é possível desconstruir uma ou outra coisa, ressignificar traumas, diminuir dramas. Mas onde eu estou, não sinto que consigo quebrar bloqueios gerados durantes essas fases, e parece que eles andam interferindo de maneira mais cruel, embora sutil, nos últimos tempos. Muito do que fiz ou deixei de fazer se basearam em necessidade de afirmação e validação de terceiros, mas principalmente em casa. Isso não foi estabelecido de maneira contratual, nunca me foi pedido nada específico ou nada foi expresso verbalmente sobre que tipo de jornada eu deveria seguir pra ser classificada como "parabéns, você foi aprovada como filha excepcional, amiga de ouro, profissional qualificada", mas, ao longo dos anos, fui solidificando certos padrões a serem alcançados, muitos deles irreais ou relevantes só na minha cabeça. Assim, a frustação sempre vem quando encaro uma situação que eu quis provar algo pra alguém e na verdade a pessoa em questão nunca esperou tal coisa, ou nunca nem foi uma questão. Situações específicas.

O fato é que quem mais deveria ser correspondida quanto a expectativas não está sendo, no caso, eu. Não estou satisfeita com nada, nunca estive. E essa sensação vem como um eco que quanto mais eu expresso isso, mais isso reverbera, indo e voltando, e hoje tá sendo um dia em que é só o que eu consigo escutar.

Escuto em silêncio o mal estar, a angústia, as palavras de desmotivação, e tudo isso me paralisa em vários aspectos. Essa semana não fiz nada direito no trabalho, não consigo passar mais de meia hora em alguma tarefa, na verdade, nos últimos 3 dias, se eu produzi 4hr de 24h de trabalho, foi muito. Tudo que eu consigo fazer é me distrair com doramas e conteúdos de kpop, que ultimamente estão me servindo de fuga e abstração pra sensação principal de desalento. Só que não posso ficar muito mais tempo nisso, então até quando estarei fugindo?

Ano passado vivi em picos produtivos, semanas extremamente animadas, dias em que iniciei novos planos, semanas que fui constante em compromissos e produtividade, algumas histórias foram contadas. Esse ano parece que desisti de tudo. 

Não consigo dirigir só, ainda que tenha sido provado mais de uma vez que, tecnicamente, sou bem capaz. Investi dinheiro nesse plano, as aulas deram certo, mas sozinha não consigo, e simplesmente não quero mais. Não me importo se preciso pegar um uber pra ir bem ali. Então, nesse aspecto, fracassei. 

Comecei uma pós, convicta de que era uma área que eu me interessava verdadeiramente, que tinha um futuro promissor e que me motivava a estudar. O primeiro módulo desse ano eu dormi durante os 3 dias, não acompanhei nada das práticas ao vivo com o professor, talvez a primeira 1 hr de cada etapa, mas simplesmente caí no sono em todos os dias, desisti. Fracassei mais uma vez.

Pensei que estava evoluindo no trabalho, adquirindo mais confiança em projetos e coordenação. Mas meu trabalho é todo limitado ao escritório, não atuo em obras, não vejo aspectos construtivos, sigo orientações e pesquiso no google, mas nem tudo se sabe assim. Numa onda de falta de energia e desgaste, atrasei todo um projeto, perdi qualquer ânimo pras minhas responsabilidades no trabalho, fui rebaixada após ser comunicada, de maneira empática, que eu não tinha todas as qualificações pro cargo que eu estava e agora nem num grupo de wpp que eu costumava estar para validação de projetos eu to mais. Não tenho grandes perspectivas de desenvolvimento pessoal nesse escritório e muito menos de satisfação financeira. Eu queria sair, na verdade, o que me impede é nem ter noção do que fazer depois. Mais um fracasso.

Não fui um único dia sequer pra academia em 2024, não consigo dormir antes das 23h e acordar antes das 7h. Se deixar, vou até as 10h, e passo o dia sonolenta, preguiçosa. 

Em casa, ando distante dos meus pais. Uma série de comportamentos deles me blindaram, ao longo dos anos, de conseguir ser transparente sobre o que eu sinto, penso e faço, e quando diálogos sobre isso vêm, se expressam de maneira explosiva, sempre comigo perdendo o tom, gerando estresse e vontade de chorar. Hoje soltei que não gostava de todo o drama que era feito em cima dos meus planejamentos de sair no fim de semana, porque sempre o comentário dito era o de que eu não deveria ir, ou de ter atenção, de não exagerar, nunca um "aproveite", sempre um "cuidado". Isso, claro que não sozinho, mas somado a uma série de outros episódios de superproteção já tidos, me fez revelar que eu não gostava desse tipo de aviso, que eu nunca fiz nada que justificasse a aparente desconfiança que tinham sobre onde eu ia, com quem eu ia e o que eu bebia. Em resumo, a resposta que eu tive foi que "então se é assim, não irei mais me preocupar nem falar nada, já que agora gero traumas, viva sua vida da forma que quiser, quando eu não tiver mais por aqui será assim mesmo" e mais algum argumento sobre papel de mãe e eu não estar sendo empática. Pois muito bem, não me senti ouvida, só vista como injusta. Nem o que eu disse sobre ter sempre procurado ser comportada e fazer as coisas direito serviu, porque na verdade isso parece que só é relevante pra mim. "Quantas vezes a gente lhe proibiu de sair de casa, lhe trancou em casa, não lhe apoiou?". Ai, eu desisti de discutir, sem forças pra falar que proibir não é só passar a chave na porta, e sim palavras, olhares e tons de vozes que causaram isso. Aparentemente só eu lembro. Mas talvez eu só esteja sendo incoerente. Fracassei como filha e na relação com meus pais.

No mais, e tem mais, é isso. Sigo paralisada, uma apatia sufocante. Mais uma sexta improdutiva, mentindo na planilha que estou trabalhando desde as 09:00 da manhã. Como se não fosse suficiente, Big está mal, com crises de tosse.


segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Counrage in me

A incansável sede por novidade na minha vida anda me deixando sem ar. 

Por muito muito tempo eu sempre relatei o quanto os dias pareciam parados, o quanto eu queria fazer uma coisa nova, planejar algo. Mas eu percebi que essa necessidade se tornou meio sufocante nos últimos 2 anos, ouso dizer que seja uma sequela da pandemia, mas adiciono o processo de envelhecer.

É real a cobrança dos pós 25. Ela nem é tão visível externamente, não tenho pessoas me perguntando muito sobre planos a longo prazo, parecem estar satisfeitas com minha linha temporal de conquistas. Não que eu devesse me importar caso não tivessem, idealmente falando. Mas o passar dos anos te faz querer viver mais. Especialmente se você não foi um adolescente muito ativo ou um jovem adulto com muita abertura pra desbravar as vivências do mundo la fora. Esse tipo de independência eu senti que atingi a pouquíssimo tempo. Sim, nos últimos 2 anos. E com isso, trouxe comigo, inconscientemente, a sensação de que tenho que compensar. Agora que tenho um trabalho, um salário, semanas quase sempre sozinha e sem a obrigação de pedir permissão, sou 100% responsável pelos rumos dos meus dias. Vamo aproveitar!

Eis que virou uma corrida. Uma constante espera pelo fim de semana, pra realizar tudo que eu não consigo fazer de segunda a sexta por conta de trabalho. Mas 2 dias são insuficientes, eu ainda tenho que limpar uma casa, lavar roupa, organizar a comida da semana, fazer alguma atividade, entretenimento. E se não der tempo? Adia pro próximo fim de semana, vamos aguardar. E é desse jeito que o ano passa voando, e a sensação do envelhecer piora. Que contagem regressiva é essa?

Como se não bastasse esse estado de cobrança abstrato, minha tendência de autosabotagem vem pra dar risada e mostrar como esse processo pode se tornar mais difícil. Se eu tivesse que ilustrar, é como se o meu entorno estivesse repleto de paisagens das mais belas e coloridas, mas eu tivesse com dois pedaços de papelão cobrindo as laterais da minha visão periférica, eu mesma segurando eles, focando somente em olhar pra frente, num ponto de fuga inalcançável.

2023 está sendo, sem dúvidas, o ano mais legal que eu já tive. Esse parágrafo, inclusive, será inteiramente dedicado a verbalizar tudo que eu vivi e conquistei, como um lembrete que eu realizei sim meu sonho de sair do marasmo. Me permiti ir a festas, a aceitar convites sem pensar muito, a conhecer gente nova, ainda que sem muita formação de laços mais profundos. É difícil criar amizades concretas com pessoas fora do seu contexto diário. Dormi fora de casa com amizades recém feitas e que acabou ali, mas virou história. Voltei de um karaokê com o dia quase amanhecendo. Troquei de emprego, ando desenvolvendo projetos que eu gosto, me sinto aprendendo e evoluindo profissionalmente, ainda que ganhando menos do que eu gostaria. Vez ou outra reclamo disso, mas reclamar não vai fazer o valor aumentar, então não há porque. Comecei uma pós graduação numa área que eu verdadeiramente me interesso. Nadei no mar, remei num caiaque, vi um eclipse solar numa canoa havaiana acompanhada de desconhecidos que conheci ali mesmo. A UFC, com muito carinho, contemplou seus alunos que se formaram apenas de maneira adminstrativa durante o período pandêmico, e realizou a cerimônia de colação de grau presencial com todos os que se formaram naquele semestre e nos semestres anteriores. Então sim, tive minha colação de grau, com direito a beca, familiares, amigos e fotos borradas. Completei um ano de academia, fui a nutricionista, ganhei massa muscular e tenho uma rotina semi estruturada de um plano alimentar. Iniciei uma terapia, depois dei uma pausa, e agora retornei, afinal a cabeça não para. Finalmente dei início ao plano de superar o medo de sair sozinha dirgindo e assumir o carro, pra ter ainda mais independência. Acho que não esqueci de nada.

O salto esse ano foi grande, dentro da minha régua pessoal. Eu sempre preciso lembrar disso. Não devo e não posso querer me comparar com outras pessoas, com outros processos, com outros objetivos. Infelizmente, o faço quase que diariamente, é um vício. Pareço ser obcecada em enxergar a grama do vizinho como mais proveitosa, mais interessante, algo que eu devia cultivar também. A mania de me achar menos, pouco, desinteressante e básica me persegue desde a adolescência, é só revisitar qualquer texto mais antigo deste blog. Mesmo me tornando quase tudo o que um dia escrevi numa página de caderno com o título "planos pra esse ano", ainda sinto que preciso de mais. Ser mais engraçada, mais inteligente, expressar os melhores pontos de vistas, agradar a todos. A necessidade de validação externa anda cravando os dedos no meu pescoço e apresentando em caixa alta tudo aquilo que eu ainda não sou (e preciso ser?), onde eu errei, onde eu faltei, no que eu ando falhando, o quanto ainda não me tornei. Sigo com falta de ar. 

Minha psicóloga me falou, na última sessão, algo muito pertinente, que estou tentando tornar um mantra diário, uma oração de culto à minha deusa interior (eu mesma): pare de enxergar tanto suas faltas, valorize suas presenças. Me impressiona o quanto faz sentido, o quanto eu só preciso pôr em prática essa filosofia. Mas se fosse fácil, eu não estaria em plena segunda-feira, absurdamente ansiosa, no expediente de trabalho, redigindo este causo num blog anônimo que sobrevive na internet.

Tenho a tendência de não viver o presente. Vivo o que eu queria ter dito, o que poderia ter sido, imagino o que posso ser, de que forma posso fazer, os mil cenários de diálogos e situações não realizados que eu já repeti incansavelmente na minha mente, como um roteiro pré definido. Expectativas são criadas como um vírus em replicação exponencial, que invade minha rotina e meus sonhos. No fim, o presente se torna um lapso, um piscar de olhos. Fico tão focada no passado e futuro, que o agora acontece só como um meio de observar se as projeções que eu criei serão realizadas. Quase sempre não são, e ai vem a frustação. 

A frustação de não ter inteiro controle sobre as minhas ações e ações de terceiros, sobre a autenticidade das relações, se gostarei de algo, se gostarão de mim. Retorno ao tópico da validação, e acho que isso ta sendo a peça chave pra todo esse devaneio do nervoso que ando passado. Não basta eu conquistar o mundo, ou ao menos o meu universo: eu preciso que vejam, que gostem, que apreciem, que valorizem e que não rejeitem. 

Mas de onde diabos surgiu esse sentimento capaz de simplesmente colonizar a minha autoestima como um parasita?

Assuntos que se estendem na terapia.

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Future

Nesta postagem venho declarar que quero ter planos! Não é que eu tenha algum, ainda permaneço num marasmo de coisas que eu queria fazer junto com o sentimento de que eu devia ter algum sonho pra correr atrás e me envolver em alguma coisa, não sei. Nada do que eu faço hoje em dia eu gosto verdadeiramente. Meu trabalho, inclusive, é como se fosse um tapa buraco, algo como ruim com, pior sem. Mas quero traçar algo, só não sei o que. 

O ano é 2022, e eu me formei, quem diria. Foi o processo mais sem graça que podia ser, superou tudo que eu podia imaginar de virada de página mais sem sal do universo. Graças à pandemia, tudo que é festejo presencial foi substituído por burocracias digitais e assinatura online. Então meu TCC foi apresentado no mesmo lugar que escrevo esse texto, eu estava pseudo-arrumada (uma blusinha bonita e um cabelo jogado pro lado), num cenário pavoroso (uma porta, um armador e uma bolsa pendurada), e sendo aplaudida via meet. Essa parte confesso que até preferi que fosse assim, acho que uma apresentação tradicional e presencial seria pior pra minha ansiedade. Mas foi isso. A parte de colação de grau está sendo resolvida através de emails que a coordenação manda pra mim, me avisando como está o procedimento, e que em algum momento eu vou precisar enviar uma assinatura. Então, precisarei buscar o diploma impresso, e fim. Nenhum evento, nenhuma beca, nenhum discurso, nenhuma foto produzida, no máximo palavras de sucesso e sorte proferidas pelo meu orientador antes de fechar a sala virtual da apresentação. Arquiteta e Urbanista. E pra que?

Não sei se a mentalidade de achar que isso não faz nem um mês e que tá tudo bem não se preocupar com futuro é a minha tendência de permanecer sempre numa zona de conforto maldita, como se eu pudesse me permitir não ir atrás de um novo emprego, um novo projeto ou começar minha carreira de maneira individual por ora. Tem dia que eu tenho vontade de começar mil coisas, um novo desenho, um novo estudo, um novo idioma, pensar em um intercâmbio. Ai pesquiso algo no google e penso que no outro dia eu vou atrás disso melhor. Mas eu esqueço e vivo novamente um dia ordinário sem maiores novidades. E o tempo anda passando muito rápido, essa desgraça de covid despertou ainda mais minha sensação de completo atraso pessoal. Felizmente não tenho ninguém específico que de alguma forma eu me compare e acabe ficando mal, meus amigos estão mais ou menos na mesma situação pelo menos (faço questão de não lembrar dos que estão de vento em popa). Eu devia fingir que eu não estou beirando os 26 anos, cancelar os últimos 2 anos e me considerar uma jovem de 24 que tá ai num abismo de possibilidades não encontradas. Invisto na arquitetura, em desenhos, em outra área mais vantajosa, em concurso, em uma pós??? 

Espero retornar a esta plataforma com algum avanço.

ps: próxima semana completa 2 meses que eu apresentei o TCC, então fica registrada aqui a total perda de noção de tempo

segunda-feira, 14 de junho de 2021

Shiki

Estamos nos direcionando para a metade de 2021, o segundo ano em que os dias passam mais rápidos do que a ciência contemporânea jamais vivenciou. Tão rápida é a movimentação dos meses, que eu iniciei a escrita nesse blog em meados de um ensino fundamental 2, e sigo digitando essas palavras no meio de uma caminhada teórica para o desenvolvimento de um TCC. 

Curiosamente eu nem estou tão desolada. De vez em quando me deparo com uma ansiedade que se instala na garganta e me faz respirar um pouco mais rápido, em busca de oxigenar um cérebro meio cansado, vagaroso e desejoso por aventuras que nunca chegam já faz algum tempo. Mas estou seguindo. 

Meio trágico eu ter dito na postagem passada que estamos morrendo, percebi que expressei essa sensação em fevereiro. Pois bem, talvez não eu ainda, mas de fato houveram mortes. Perdi dois tios para a COVID. Foram dias meio esquisitos os que vieram depois disso, até mesmo agora, embora o luto do momento tenha se acalmado. Não parece real, nenhum pouco palpável. Detesto concordar que a vida é um sopro. E a cada respirada pesada que eu dou, lá se vai mais um.

Partindo para outra linha de pensamento completamente diferente, dia desses foi dia dos namorados. Não que isso tenha alguma relevância pra mim, já teve mais impacto em épocas que uma história de amor era um dos meus grandes sonhos não realizados. Hoje não é uma prioridade pra mim. Até porque, o que antigamente eu achava ser um critério consciente, eu entendi ser só um traço de personalidade: sou detalhista demais pra me conectar com alguém. Eu sempre achei que gostos em comum e bom humor era tudo que se precisa pra investir em um romance. Mas gostos em comum e bom humor saturam. Não sei se foi a fase adulta que chegou com tudo, hormônios destruindo algumas conexões nervosas ou só o contexto de confinamento que contribuem pra isso, mas eu tenho pouquíssima paciência para lidar com amizades recentes baseadas em conversas sem muita consistência, flertes superficiais, piadinhas aleatórias e uma intencionalidade de impressionar. Isso exige energia demais, e energia me falta. Reflito, portanto, que me deixa extremamente feliz a existência de amigos em que eu posso falar de um cotidiano simples e rotineiro, rir de abobrinhas internas, adentrar em assuntos completamente espontâneos ou só não falar nada e estar tudo bem. (termos que a pandemia destruiu) 

Enfim, devaneios de um início de semana, me vi numa trilha sonora muito inspiradora para textos como esse, desabafos sem muita pretensão de soarem melancólicos ou poéticos. 


segunda-feira, 29 de março de 2021

Nothing to say

Mais um diário de bordo escrito de um navio que afunda dia após dia. 

Não sei ao certo o que relatar, não há muito o que dizer. Ainda estamos em pandemia, senhoras e senhores, e não é que esteja melhorando, veja bem, o presidente permanece o mesmo acéfalo já descrito anteriormente. Mas sigamos. 

Como na maioria das escritas desse canal, esta digito à noite, nas profundezas das 23h. Estão sendo noites conturbadas, inclusive. Não que eu nunca tenha tido dificuldade para dormir, mas agora a insônia não vem da ausência do sono, mas da vontade de não querer dormir. O marasmo que assola os meus dias manipula meu subconsciente a achar que eu deveria estar fazendo mais. Seja mais produtiva, aproveite seu tempo pra adiantar algo, porque você não sai desse instagram? 

Calma aí, minha cara, estamos morrendo.

Talvez não eu de imediato, enquanto organismo, mas o nosso redor. Nossas expectativas nascem e morrem todos os dias, nossas vontades. O cenário não é promissor para se estar fazendo planos, imaginando o futuro, organizando os próximos anos. Ele mal te dá o luxo de pensar quanto tempo você tem pela manhã para terminar aquele projeto, aquele seminário. O tempo é relativo não é mesmo, 4 horas pode ser tudo, pode ser nada. 

Mas como dito no início deste texto, não há muito o que dizer. 

Devia voltar a escrever poemas de amor, ainda que, pasme, não o tenha.

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

The lion fell in love with the lamb

De volta a este blog, um refúgio digital imortalizado pelo algoritmo do google. Eu jamais imaginaria que ele se manteria vivo, embora não atualizado, completando extraordinários 10 ANOS de textos não justificados. Esse vai ser o primeiro agraciado de completo alinhamento!!! 

Pois bem, eu nunca compactuei com tamanho compromisso em vida, compromissos me dão ansiedade na verdade. Mas este blog se nutre graças a ela, que energiza minha mente com um fluxo de pensamentos que eu não sei se um dia serei capaz de controlá-lo, não sei nem se quero. Esse cenário de constante drama mental é peça chave no meu modo de ser, sabe-se lá se eu seria como sou, ou se teria chegado onde estou (outro assunto complexo demais que vale um questionamento posterior), ou se me apegaria aos amigos que tenho se eu fosse minimamente mais estável. Longe de mim não ansiar por saúde mental, mas enquanto a mente não interfere nos padrões científicos de sanidade, acho que está tudo bem, né? 

O ANO É 2020, setembro, tem quem diga que a pandemia está erradicada do planeta, e que já é permitido lamber pessoas e outras superfícies sem pegar uma doença que te tira o fôlego. Tem quem diga que racismo no Brasil não existe, que você só não venceu na vida porque não se esforçou o suficiente e que a ditadura foi revolução. Tem quem diga muita coisa. O fato é que o planeta esteve tão em polvorosa que eu vou ter que favoritar o link da retrospectiva desse ano pra ir vendo em partes, de acordo com a resistência do meu estômago. E quando digo em polvorosa, é com coisas explodindo mesmo, literalmente. Cidades explodindo, Pantanal e Amazônia pegando fogo. Inclusive um parêntese mental aqui, tivemos o Museu Nacional que também pegou fogo em setembro, mas foi de 2018, e eu estou em estado de choque enquanto redijo este testemunho, porque pra mim não faz muito tempo. Sinceramente, qual o rumo que esta geração está tomando? Essa parece ser a pergunta de um milhão de dólares, que na cotação atual vale muito mais que barras de ouro, 5.24 vezes o real para ser mais precisa. Minha esperança é poder reler essa postagem daqui a mais 10 anos e rir desse cenário tal qual eu ri ao ler minha descrição melódico-dramática de uma série de sonhos que andava tendo aos 14 anos. Meus sonhos eram passíveis de serem levados a um psicologo para análise, qual será o profissional que buscarei para averiguar a seriedade da situação do país que eu descrevi anteriormente? 

Ainda no espectro de comparação do ciclo de 10 anos, tenho o prazer de registrar o recente lançamento literário capaz de abalar estruturas de um coração quase engessado por bibliografias acadêmicas: O sol da meia noite. Isso mesmo, o maior boato da oitava série twilighter finalmente se tornou realidade. Minha parcela vampira se encheu de alegria, e confesso que retornar ao torpor romântico sob a perspectiva do Edward Cullen me faz acreditar de novo no amor (inteiramente idealizado e irreal). Apesar de ser bem atenta aos sinais de obsessão abusiva descritos no livro que felizmente não consigo mais relativizar, o relato de amor profundo e intensa necessidade de proteger outrem ainda me toca de maneira substancial. Não que eu deseje que um homem nascido de contos medievais sobrenaturais frequente meu quarto toda noite e me observe dormir, mas a descrição do ser imortal nervoso e emocionado diante daquela que mais ama e do medo de perdê-la vista a efemeridade da vida humana e a fragilidade a que nosso organismo é submetido me parece profunda e pertinente. Afinal, com que frequência alguém experimenta verdadeiramente o sentimento de que importar com a o viver do outro na mesma intensidade que se preocupa com si próprio? Isso é algo a se almejar? Questões.

Para a infelicidade do leitor, já passa da meia noite e eu preciso dormir. Mas há tanto pra dizer. Será que devo reascender o costume da escrita para a posteridade? Acho que a Gaby de 34 anos não perde por esperar ler um drama universitário enquanto desfruta de plena estabilidade financeira e psicológica enquanto vivencia o bem estar social no Brasil entregue ao proletariado. Seja bem vinda minha cara.