quarta-feira, 6 de março de 2024

Colors of the wind

Epifanias sempre me ocorrem durante expediente de trabalho home office, é impressionante. Talvez porque durante esse tempo eu esteja pensando tanto em diversas outras coisas que eu queria verdadeiramente estar fazendo, mas não sei que diabo de mão invisível me segura e me impede de COMEÇAR qualquer coisa que fuja da minha rotina capenga e desmotivada de trabalho em escritório.
Esses dias eu andei arrumando meu quarto e arranquei um postit da minha parede que dizia "sinto falta de ser criativa".

Uma das poucas certezas que eu tenho na vida é que eu gosto muito de criar. Tudo das esferas criativas e artísticas me ilumina os olhos, ainda que eu não tenha parado pra me aprofundar em alguma área específica. Arquitetura foi uma profissão que eu me envolvi muito ingenuamente crendo que abarcava essas minhas preferência em um ramo prático do mercado de trabalho. Acabou que não é bem assim, ainda que muitos arquitetos se considerem de alguma forma artistas, ou expressem arte em outras áreas da vida além da profissão formal. Mas justamente, não é a arquitetura que norteia isso, é o seu gosto por arte que de repente se encaixa em alguma vertente de atuação. No meu dia a dia, eu só detalho e especifico desenhos técnicos, nada autoral.

Já fui de desenhar, já comecei a aprender piano, costumava criar histórias e mais histórias, ler muitos livros de fantasia, criei este blog. Sou viciada em ver séries, animações, filmes, trilhas sonoras me captam de maneira quase espiritual, é ouvindo uma delas que me veio a inspiração de escrever esse texto.

Como ja relatado anteriormente, ando num vale de confusão sobre como ando vivendo. Mas agora, neste momento, senti um pequeno respiro de inspiração diante de uma música, de um desfile de moda, de um sketch de estilismo, de um croqui sem compromisso feito por um artista que eu gosto. 

Arte. Criação. 

Eu tenho que lembrar disso, e lembrar que essa é a luz que pode clarear caminhos tortuosos.

Mas como sempre, me falta começar. 

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

A test of my patience

Eu sou um fracasso

Certamente isso não é verdade, também não tenho exata clareza sobre qual a métrica pra considerar numericamente quanto alguém prosperou ou deu errado na vida, nem tem que ter uma né, até porque a vida é algo rolando ao vivo, todo dia tem algo pra somar (ou diminuir?)

Mas o sentimento que eu tenho corriqueiramente anda sendo esse. O de que eu não faço as coisas da melhor forma, não penso as coisas certas, que talvez esteja sendo injusta, egoísta, que não consigo me organizar em nada, focar em nada, não sei o que eu preciso buscar ou ansiar, que nada me motiva de verdade. Ao mesmo tempo em que eu encaro um enorme vazio pessoal, não faltam ruídos na cabeça, dia após dia subindo 1 degrau e descendo 3 se o bem estar e a confiança no que eu faço fossem encarados figurativamente como uma torre, ou um poço.

Existem algumas fases do desenvolvimento humano que servem pra construir caráter, personalidade, traços de comportamento e tudo mais, e acho que nessas fases é possível desconstruir uma ou outra coisa, ressignificar traumas, diminuir dramas. Mas onde eu estou, não sinto que consigo quebrar bloqueios gerados durantes essas fases, e parece que eles andam interferindo de maneira mais cruel, embora sutil, nos últimos tempos. Muito do que fiz ou deixei de fazer se basearam em necessidade de afirmação e validação de terceiros, mas principalmente em casa. Isso não foi estabelecido de maneira contratual, nunca me foi pedido nada específico ou nada foi expresso verbalmente sobre que tipo de jornada eu deveria seguir pra ser classificada como "parabéns, você foi aprovada como filha excepcional, amiga de ouro, profissional qualificada", mas, ao longo dos anos, fui solidificando certos padrões a serem alcançados, muitos deles irreais ou relevantes só na minha cabeça. Assim, a frustação sempre vem quando encaro uma situação que eu quis provar algo pra alguém e na verdade a pessoa em questão nunca esperou tal coisa, ou nunca nem foi uma questão. Situações específicas.

O fato é que quem mais deveria ser correspondida quanto a expectativas não está sendo, no caso, eu. Não estou satisfeita com nada, nunca estive. E essa sensação vem como um eco que quanto mais eu expresso isso, mais isso reverbera, indo e voltando, e hoje tá sendo um dia em que é só o que eu consigo escutar.

Escuto em silêncio o mal estar, a angústia, as palavras de desmotivação, e tudo isso me paralisa em vários aspectos. Essa semana não fiz nada direito no trabalho, não consigo passar mais de meia hora em alguma tarefa, na verdade, nos últimos 3 dias, se eu produzi 4hr de 24h de trabalho, foi muito. Tudo que eu consigo fazer é me distrair com doramas e conteúdos de kpop, que ultimamente estão me servindo de fuga e abstração pra sensação principal de desalento. Só que não posso ficar muito mais tempo nisso, então até quando estarei fugindo?

Ano passado vivi em picos produtivos, semanas extremamente animadas, dias em que iniciei novos planos, semanas que fui constante em compromissos e produtividade, algumas histórias foram contadas. Esse ano parece que desisti de tudo. 

Não consigo dirigir só, ainda que tenha sido provado mais de uma vez que, tecnicamente, sou bem capaz. Investi dinheiro nesse plano, as aulas deram certo, mas sozinha não consigo, e simplesmente não quero mais. Não me importo se preciso pegar um uber pra ir bem ali. Então, nesse aspecto, fracassei. 

Comecei uma pós, convicta de que era uma área que eu me interessava verdadeiramente, que tinha um futuro promissor e que me motivava a estudar. O primeiro módulo desse ano eu dormi durante os 3 dias, não acompanhei nada das práticas ao vivo com o professor, talvez a primeira 1 hr de cada etapa, mas simplesmente caí no sono em todos os dias, desisti. Fracassei mais uma vez.

Pensei que estava evoluindo no trabalho, adquirindo mais confiança em projetos e coordenação. Mas meu trabalho é todo limitado ao escritório, não atuo em obras, não vejo aspectos construtivos, sigo orientações e pesquiso no google, mas nem tudo se sabe assim. Numa onda de falta de energia e desgaste, atrasei todo um projeto, perdi qualquer ânimo pras minhas responsabilidades no trabalho, fui rebaixada após ser comunicada, de maneira empática, que eu não tinha todas as qualificações pro cargo que eu estava e agora nem num grupo de wpp que eu costumava estar para validação de projetos eu to mais. Não tenho grandes perspectivas de desenvolvimento pessoal nesse escritório e muito menos de satisfação financeira. Eu queria sair, na verdade, o que me impede é nem ter noção do que fazer depois. Mais um fracasso.

Não fui um único dia sequer pra academia em 2024, não consigo dormir antes das 23h e acordar antes das 7h. Se deixar, vou até as 10h, e passo o dia sonolenta, preguiçosa. 

Em casa, ando distante dos meus pais. Uma série de comportamentos deles me blindaram, ao longo dos anos, de conseguir ser transparente sobre o que eu sinto, penso e faço, e quando diálogos sobre isso vêm, se expressam de maneira explosiva, sempre comigo perdendo o tom, gerando estresse e vontade de chorar. Hoje soltei que não gostava de todo o drama que era feito em cima dos meus planejamentos de sair no fim de semana, porque sempre o comentário dito era o de que eu não deveria ir, ou de ter atenção, de não exagerar, nunca um "aproveite", sempre um "cuidado". Isso, claro que não sozinho, mas somado a uma série de outros episódios de superproteção já tidos, me fez revelar que eu não gostava desse tipo de aviso, que eu nunca fiz nada que justificasse a aparente desconfiança que tinham sobre onde eu ia, com quem eu ia e o que eu bebia. Em resumo, a resposta que eu tive foi que "então se é assim, não irei mais me preocupar nem falar nada, já que agora gero traumas, viva sua vida da forma que quiser, quando eu não tiver mais por aqui será assim mesmo" e mais algum argumento sobre papel de mãe e eu não estar sendo empática. Pois muito bem, não me senti ouvida, só vista como injusta. Nem o que eu disse sobre ter sempre procurado ser comportada e fazer as coisas direito serviu, porque na verdade isso parece que só é relevante pra mim. "Quantas vezes a gente lhe proibiu de sair de casa, lhe trancou em casa, não lhe apoiou?". Ai, eu desisti de discutir, sem forças pra falar que proibir não é só passar a chave na porta, e sim palavras, olhares e tons de vozes que causaram isso. Aparentemente só eu lembro. Mas talvez eu só esteja sendo incoerente. Fracassei como filha e na relação com meus pais.

No mais, e tem mais, é isso. Sigo paralisada, uma apatia sufocante. Mais uma sexta improdutiva, mentindo na planilha que estou trabalhando desde as 09:00 da manhã. Como se não fosse suficiente, Big está mal, com crises de tosse.