terça-feira, 17 de outubro de 2017

About you

Me deixa, eu te imploro. Me larga. Me liberta dessa insensatez, do sentimento insalubre que me adoece a cada história criada. Não me olha mais nos olhos, não me escreve mais poemas. Não me legenda como íntimo, não me envolve nessa psicodelia, não me faz pensar no impensável, não me recita o amor universal. Não sou o universo, muito menos a ligação infinita e recíproca dos subníveis de um átomo. Eu sou um corpo. Eu sou uma mente. Eu sou o individual, o ego, o escárnio, o erro, a obsessão, a lágrima que cai e que jorra quando palavras dilaceram meu interior. Eu te desenho, eu te escrevo, e te venero, eu te desejo. E não quero mais. E nem sei mais. Já não cabe mais. A mentira da estabilidade me abraça e me esfaqueia na penumbra da expectativa, que me cega, me venda e me vende as maravilhas do ideal. Não entra mais em casa, não entra mais em mim.

E toda noite eu clamo pelo nunca mais.

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Toxic.

  Prudência jovem, palavras ferem. Uma faca de dois gumes que penetra o peito de quem a segura, ou o pescoço de quem a recebe. O jorrar do sangue morno banha  o corpo do leitor, que, imerso nas próprias interpretações, se afoga ao gritar por socorro. Pare? Esclareça? Continue a escrever? Respire. Esqueça o que se leu, reinvente o que foi entendido, confesse que a insanidade distorce os sentidos. Que conselho dar a quem carrega um inferno astral nas costas? Reflita, re-leia, rejeite, reaja, refaça, reviva, restaure, resguarde, resgata e respeite. Respire. Faça o que eu não digo. Faça o que eu não penso. Siga a razão, a integridade desse coração é questionável, a credibilidade dessa emoção é podre, a estrutura desse corpo é finita, e definha. Por fim, inspire. Respire.

domingo, 2 de abril de 2017

And pain is just a simple compromise

   Te observo. Inegáveis as vezes que quis observar mais. De querer somente percorrer toda a extensão da tua alma e corpo com um olhar. De querer compreender cada expressão, cada movimento da maneira mais plena. Diversos são os pensamentos nos quais persigo teus passos em busca de serenidade. Encontro palavras turvas. Reviro os olhos quando me encontro nas amarras do meu próprio sentimento, egoísta, mesquinho, viciado. Tal qual um dependente, rastejo em busca dessa morfina que cala meus medos, silencia receios, acalma. Nas noites, entregue ao divã imaginário dos meus devaneios, me sacio com uma droga eletrizante de amor, empolgação, carinho, uma dose doce de desejo contido, obsessão, que mais uma vez me agarram pelos cabelos curtos, mas que usam minhas próprias mãos para isso. Um embate diário entre a razão que repreende e a emoção que dilacera todas as cavidades de um coração ansioso, sempre pronto para sentir o calor do taquicardia que me vitimiza ao olhar nos teus olhos, que rasga o peito diante do sorriso, que me envolve na conversa solta e que me aquece no silêncio gélido. Diante das mais falhas tentativas de demonstração, me assemelho a um ventríloco, que manipula a própria voz e a entrega ao personagem. Não tenho como definí-lo. Entretanto, atinjo o ideal de liberdade literária ao fazer das palavras uma saída. E é em modo de fuga que lhe digo: tão macios são teus lábios que brevemente me perco, com os olhos fechados, numa escuridão onde até mesmo andaria de pés descalços nas brasas da tal emoção. O exagero é aceitável, as metáforas talvez piegas, a inconclusão quem sabe um charme, honestamente, já não sei mais.