segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Counrage in me

A incansável sede por novidade na minha vida anda me deixando sem ar. 

Por muito muito tempo eu sempre relatei o quanto os dias pareciam parados, o quanto eu queria fazer uma coisa nova, planejar algo. Mas eu percebi que essa necessidade se tornou meio sufocante nos últimos 2 anos, ouso dizer que seja uma sequela da pandemia, mas adiciono o processo de envelhecer.

É real a cobrança dos pós 25. Ela nem é tão visível externamente, não tenho pessoas me perguntando muito sobre planos a longo prazo, parecem estar satisfeitas com minha linha temporal de conquistas. Não que eu devesse me importar caso não tivessem, idealmente falando. Mas o passar dos anos te faz querer viver mais. Especialmente se você não foi um adolescente muito ativo ou um jovem adulto com muita abertura pra desbravar as vivências do mundo la fora. Esse tipo de independência eu senti que atingi a pouquíssimo tempo. Sim, nos últimos 2 anos. E com isso, trouxe comigo, inconscientemente, a sensação de que tenho que compensar. Agora que tenho um trabalho, um salário, semanas quase sempre sozinha e sem a obrigação de pedir permissão, sou 100% responsável pelos rumos dos meus dias. Vamo aproveitar!

Eis que virou uma corrida. Uma constante espera pelo fim de semana, pra realizar tudo que eu não consigo fazer de segunda a sexta por conta de trabalho. Mas 2 dias são insuficientes, eu ainda tenho que limpar uma casa, lavar roupa, organizar a comida da semana, fazer alguma atividade, entretenimento. E se não der tempo? Adia pro próximo fim de semana, vamos aguardar. E é desse jeito que o ano passa voando, e a sensação do envelhecer piora. Que contagem regressiva é essa?

Como se não bastasse esse estado de cobrança abstrato, minha tendência de autosabotagem vem pra dar risada e mostrar como esse processo pode se tornar mais difícil. Se eu tivesse que ilustrar, é como se o meu entorno estivesse repleto de paisagens das mais belas e coloridas, mas eu tivesse com dois pedaços de papelão cobrindo as laterais da minha visão periférica, eu mesma segurando eles, focando somente em olhar pra frente, num ponto de fuga inalcançável.

2023 está sendo, sem dúvidas, o ano mais legal que eu já tive. Esse parágrafo, inclusive, será inteiramente dedicado a verbalizar tudo que eu vivi e conquistei, como um lembrete que eu realizei sim meu sonho de sair do marasmo. Me permiti ir a festas, a aceitar convites sem pensar muito, a conhecer gente nova, ainda que sem muita formação de laços mais profundos. É difícil criar amizades concretas com pessoas fora do seu contexto diário. Dormi fora de casa com amizades recém feitas e que acabou ali, mas virou história. Voltei de um karaokê com o dia quase amanhecendo. Troquei de emprego, ando desenvolvendo projetos que eu gosto, me sinto aprendendo e evoluindo profissionalmente, ainda que ganhando menos do que eu gostaria. Vez ou outra reclamo disso, mas reclamar não vai fazer o valor aumentar, então não há porque. Comecei uma pós graduação numa área que eu verdadeiramente me interesso. Nadei no mar, remei num caiaque, vi um eclipse solar numa canoa havaiana acompanhada de desconhecidos que conheci ali mesmo. A UFC, com muito carinho, contemplou seus alunos que se formaram apenas de maneira adminstrativa durante o período pandêmico, e realizou a cerimônia de colação de grau presencial com todos os que se formaram naquele semestre e nos semestres anteriores. Então sim, tive minha colação de grau, com direito a beca, familiares, amigos e fotos borradas. Completei um ano de academia, fui a nutricionista, ganhei massa muscular e tenho uma rotina semi estruturada de um plano alimentar. Iniciei uma terapia, depois dei uma pausa, e agora retornei, afinal a cabeça não para. Finalmente dei início ao plano de superar o medo de sair sozinha dirgindo e assumir o carro, pra ter ainda mais independência. Acho que não esqueci de nada.

O salto esse ano foi grande, dentro da minha régua pessoal. Eu sempre preciso lembrar disso. Não devo e não posso querer me comparar com outras pessoas, com outros processos, com outros objetivos. Infelizmente, o faço quase que diariamente, é um vício. Pareço ser obcecada em enxergar a grama do vizinho como mais proveitosa, mais interessante, algo que eu devia cultivar também. A mania de me achar menos, pouco, desinteressante e básica me persegue desde a adolescência, é só revisitar qualquer texto mais antigo deste blog. Mesmo me tornando quase tudo o que um dia escrevi numa página de caderno com o título "planos pra esse ano", ainda sinto que preciso de mais. Ser mais engraçada, mais inteligente, expressar os melhores pontos de vistas, agradar a todos. A necessidade de validação externa anda cravando os dedos no meu pescoço e apresentando em caixa alta tudo aquilo que eu ainda não sou (e preciso ser?), onde eu errei, onde eu faltei, no que eu ando falhando, o quanto ainda não me tornei. Sigo com falta de ar. 

Minha psicóloga me falou, na última sessão, algo muito pertinente, que estou tentando tornar um mantra diário, uma oração de culto à minha deusa interior (eu mesma): pare de enxergar tanto suas faltas, valorize suas presenças. Me impressiona o quanto faz sentido, o quanto eu só preciso pôr em prática essa filosofia. Mas se fosse fácil, eu não estaria em plena segunda-feira, absurdamente ansiosa, no expediente de trabalho, redigindo este causo num blog anônimo que sobrevive na internet.

Tenho a tendência de não viver o presente. Vivo o que eu queria ter dito, o que poderia ter sido, imagino o que posso ser, de que forma posso fazer, os mil cenários de diálogos e situações não realizados que eu já repeti incansavelmente na minha mente, como um roteiro pré definido. Expectativas são criadas como um vírus em replicação exponencial, que invade minha rotina e meus sonhos. No fim, o presente se torna um lapso, um piscar de olhos. Fico tão focada no passado e futuro, que o agora acontece só como um meio de observar se as projeções que eu criei serão realizadas. Quase sempre não são, e ai vem a frustação. 

A frustação de não ter inteiro controle sobre as minhas ações e ações de terceiros, sobre a autenticidade das relações, se gostarei de algo, se gostarão de mim. Retorno ao tópico da validação, e acho que isso ta sendo a peça chave pra todo esse devaneio do nervoso que ando passado. Não basta eu conquistar o mundo, ou ao menos o meu universo: eu preciso que vejam, que gostem, que apreciem, que valorizem e que não rejeitem. 

Mas de onde diabos surgiu esse sentimento capaz de simplesmente colonizar a minha autoestima como um parasita?

Assuntos que se estendem na terapia.