terça-feira, 24 de maio de 2011

~~SONHO~~

O dia estava ensolarado.O sol raiava intensamente no lago.As palhas do telhado da minha casa cantavam e dançavam junto ao vento.Isso me acalmava.Os pães estavam assando.O cheiro de chá de camomila voava e espalhava-se dentro da pequena casinha no bosque
  O dia estava maravilhoso.Estava sozinha,mas isso não me incomodava.Vivia longe demais do castelo para ser incomodada por cavaleiros reais.
  Tenho que admitir que não era tão feliz estando completamente sozinha,mas conseguia viver tranquilamente.Meus pais estavam distantes,muito distantes.Eles estavam felizes na dimensão dos deuses,com seus espíritos leves e livres de tristeza,esperando por mim.Mas enquanto aguardava o dia da minha grande viagem,deveria continuar vivendo pacatamente,como sempre vivi.
  De repente ouço gritos.Gritos de desespero.Não notei quando a criança que tanto gritava entrou correndo pela janela do meu quarto.Era uma linda menininha,escondida pelos arranhões e hematomas que sangravam por todo seu corpo.
  Sem hesitar,a criança escondeu-se debaixo da cama,horrivelmente apavorada.Depois de alguns poucos segundo ouvi o trotar de vários cavalos.Ao perceber as bandeirinhas com o emblema da corte conclui que aqueles eram os tais cavaleiros reais causadores de tamanho medo da menina.
  Os homens invadiram minha casa,revirando tudo que encontravam pela frente ,procurando a criança que a pouco chegara a minha casa.Ao olharem o quarto,senti meu coração latejar na garganta.''Eles vão encontrá-la'',pensei assustada.
  Depois de destruírem por completo minha pequena casa,um dos cavaleiros gritou,impondo toda sua autoridade:
 -Onde está a criança bastarda?Diga-nos ou arrancarei sua cabeça sem piedade alguma!
 -De que crianças estais falando meu senhor?-tentei disfarçar.
 -Não me faça de tolo plebéia imbecil!Minha paciência está esgotando.
 -Se tu falas de uma menininha surrada,ela seguiu para a floresta-menti-e faz pouco tempo.
  Ele desconfiou,mas quando viu que,aparentemente,a garota não se encontrava ali,acreditou no que eu relatara.
  Os cavaleiros dispararam para a floresta,com seus cavalos imponentes,de crinas brilhantes e sedosas.O cavalo do general era branco para diferenciá-lo e dar-lhe liderança e poder perante os outros.
  Quando tive a certeza de que aqueles homens estavam longe,corri em direção a cama do quarto.
  Lá estava a criança,em estado de choque.Fui até ela e tentei acalmá-la:
 -Venha criança,estais segura agora.
A criança continuou calada
 -Por favor fale alguma coisa-insisti-venha,tenho roupas limpas e pequenas que servirão em ti.Esquentarei a água para teu banho enquanto te acalmas.
  Deixei a garota sentada na cama e fui procurar as roupas,quanto a chaleira da água começava a ferver.
  Quando voltei ao quarto a menina estava deitada na cama,aliviada e aparentemente mais calma.Portanto tomei a liberdade de conversar com ela:
 -Como te chamas pequena criança?
 -Elisa-falou a menina envergonhada-por favor,sou sou criminosa.
 -E por que estavas fugindo?-perguntei curiosa-por que aqueles homens te perseguiam daquele jeito?
 -Porque fiz uma coisa muito errada.
 -O que fizestes de tão errado assim?
 -Por favor,não quero falar sobre isso.Apenas saiba que não sou mal.
 -Tudo bem Elisa-quis mostrar intimidade para que a garota se tranqüilizasse mais-mais tarde falamos sobre isso.
  Elisa concordou e foi tomar seu banho.Minutos depois,quando ela já estava banhada e vestindo roupas limpas,comecei a cuidar de seus ferimentos.No final do dia ela já estava recuperada.
  À noite,na hora do jantar,sentamos à mesa e começamos a comer a canja que eu preparara pela manhã.Depois de longos minutos de silêncio,finalmente me prontifiquei a tocar no assunto que Elisa tanto repudiava:
 -Criança,por que te perseguiam?
 -Porque fiz algo muito errado.
 -Mas o que tu fizestes de tão terrível?
 -Por favor,não pergunte sobre isso.
 -Desculpe,mas se eu não souber sobre a história de alguém que salvei de homens fortemente armados e poderosos,não poderei te abrigar aqui por muito mais tempo.Posso estar correndo perigo!
  Elisa pensou,hesitou um pouco,mas decidiu falar:
 -Peguei um objeto proibido do mago do rei.
 -E que objeto é esse?-aquilo me intrigava-E que mago é esse?
 -O mago é um servo do rei-Elisa parecia saber bastante do assunto-Esse mago é um estudioso que procura curas e remédios para o povoado,além de desvendar mistérios sobre nossa história.
 -E que objeto você pegou?
 -Uma ampulheta.
 -E o que tem de tão especial em uma ampulheta?
 -A ampulheta pertencia a um deus do tempo,segundo a lenda,e tem o poder de voltar no tempo.
  Não podia acreditar naquilo.Mais parecia um artefato de estórias e contos para crianças.Mas concordei com o que ela dizia para que continuasse falando sobre a ampulheta:
 -E para quê você queria essa ampulheta?
Elisa parou de falar,respirou fundo e continuou:
 -A dois anos,aqueles mesmos cavaleiros que estavam me perseguindo,assassinaram meus pais.
 -Mas por porque?-estava transtornada.
 -Porque,na época,o reino estava passando por um período de estrema pobreza e fome entre quase todos da plebe,por conta dos altos impostos cobrados pela nobreza e igreja.Por causa disso,meus pais,que possuiam ilegalmente um pequena herança,doavam comida e roupas para os mais necessitados,como crianças,mulheres grávidas e idosos.Quando os cobradores de impostos descobriram,mandaram matá-los,pois além da herança ilegal,era proibido manifestar qualquer ato de ajuda ou compaixão na plebe,que não se originasse da igreja.Enfim,eu precisava da ampulheta para voltar no tempo e salvá-los.
  Mesmo não acreditando muito no que Elisa me contava,a comoção surgiu como uma martelada forte e não consegui conter o choro.Todo esse tempo fui ignorante,vivendo sempre sozinha e isolada,enquanto muitos sofriam com o reinado injusto da corte.
  Após o jantar,arrumei o canto do quarto com um colchão reserva para que a garotinha descansasse.
  Já estávamos dormindo quando ouvimos mais uma vez as trotadas.De repente os cavaleiros entraram violentamente,destruindo tudo de novo.O general fitou-me de forma malígna e falou,quase que num susurro:
 -Tu mentiste,e por isso tua morte será cruel.A doce menininha da qual salvara e cuidara na tua casa irá sofrer e eu não quero que perdas nenhum momento da morte dela.Espero de gostes.-falou o general num profundo tom de ironia maldosa.
  Foi tudo muito rápido.Elisa foi amarrada grosseiramente pelos pés numa árvore ali próxima e,com uma foice brilhante,afiada e demoníaca,um dos homens mais cruel e malevolente cortou a cabeça de Elisa com um só golpe.
  Não vi tal cena.Eu estava acordada.

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