quinta-feira, 27 de novembro de 2014

When I stand and look about the port and contemplate my life.

     Era fim de tarde. O sol encontrava-se na mesma altura que o olhar calculista do marinheiro. Enquanto ele analisava a melhor rota, pensava no barco, à espera no píer. Este, tão cheio de histórias para contar a cada arranhão, a cada novo fungo em seu casco, a cada remendo na vela. Tão contraditoriamente, o porto seguro do marinheiro era seu barco. E juntos partiam para mais uma trajetória. O homem detinha o poder de escolha sobre que rota seguir e ele via-se em um encruzilhar de correntes. Uma mostrava-se segura, fazia jus a sua aparente calmaria, era rodeada de belas paisagens, um convite à mente do marinheiro, disposto a desbravar as mais intensas sensações a cada fragrância, a cada som e a cada lembrança que o caminho poderia lhe proporcionar. Entretanto, a rota era impedida por um paredão de rochas gigantes e desconhecidas. Embora um entrave, as rochas faziam parte de uma harmonia e controle inestimável á existência das maravilhas daquele caminho. Destruir tal paredão, seja em qual circunstância for, colocaria em risco o equilíbrio do lugar. Mas o marinheiro era tragado constantemente pela euforia de se navegar pelas águas tão convidativas que provavam a cada minuto que tudo valeria a pena. Acalme-se, dizia sua mente. Vislumbrar tamanha perfeição só te direciona a vivências tortuosas que podem desmoronar tanto as grandes rochas, como as lindas paisagens, sobrando apenas um simples barco á deriva de um oceano assustadoramente imóvel. O homem de repente nota a segunda trajetória. Tão simples, tão aberta, tão livre, tão incerta. Uma rota de águas límpidas, refletindo um perfil quase exato de seu belo barco. Mas a corrente nem ao menos se dava ao  luxo de adornar o seu redor, de apelar aos olhos e sentidos do marinheiro. Ela estava lá, fazendo seu papel junto ao ambiente, confortando o homem nas suas viagens e provações, mas a reciprocidade do reflexo das águas só se baseava no óbvio que se há para interpretar. Nenhuma imagem refratada, nenhuma cor proveniente de efeitos luminosos desconhecidos. Apenas águas calmas. E nesse fim de tarde o marinheiro não tinha muitos planos, afinal o dia estava acabando. Só queria experimentar como seria divagar em noites estreladas ao encontro de novas terras perdidas pelo mapa. Na verdade não tinha muita escolha. Sua trajetória de encontro aos paredões não dependia da sua boa vontade, a própria corrente se negava a prosseguir, com receio de por em xeque seus arredores tão lindos. As outras águas calmas, bom, estavam apenas lá, sem maiores curiosidades sobre o mundo lá fora. 
     E então o marinheiro decide sentar e esperar, na beirada do porto, seus pés de encontro a ambas as correntes, pois suas única certeza é o raiar do dia seguinte. 

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