quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Their tears are filling up their glasses, no expression.

  Numa tentativa de arquivar algumas sensações, venho por meio desse texto relatar características de um dia em que gozei da solidão para perceber que ela pode não ser tão ruim.
   Mais um dia de sol nasceu, repleto  de pequenos rituais. Levantar, tomar banho, comer, beber um copo dágua, prender o cabelo e sair. Tinha uma consulta com a psicóloga, ando fazendo terapia. O trajeto é tranquilo, são movimentos executados de maneira quase automática. Inovei um pouco lendo um livro. Li algo sobre marketing que se referia ao drama ainda não concretizado da história. Achei muito interessante. Pelo o que entendi, uma empresa de lâminas observou queda das vendas de determinado barbeador. Na verdade, a grande questão não era a qualidade questionável do produto, pelo contrário. As lâminas eram tão boas que os consumidores retornavam ao supermercado menos vezes para adquirir outras. A empresa estava achando aquilo prejudicial para os lucros, então decidiu lançar um novo produto, com algum diferencial, mas com durabilidade inferior. Mas porque refletir sobre lâminas?
   As consultas semanais diminuem certa tensão de origem desconhecida que carrego em minhas costas. Pautas aleatórias são lançadas, e concluo todas elas com exercícios de respiração. No fim, agradeço e remarco a consulta para semana posterior. Não sei quanto tempo isso vai durar.
   Me dirigi ao shopping. O dia anterior fora bem difícil, crises ocorreram de forma desconhecida. Devo dizer que eu tenho medo. Decidi que deveria fazer algo que me distraísse, sozinha mesmo.
   Almocei calmamente e no silêncio de uma mente rodeada de burburinhos de uma praça de alimentação. Resolvi ver um filme no cinema. Nos espaços que ia percorrendo. percebi tanta coisa. Grupos de estudantes histéricos por algum motivo, alguns indivíduos mais carrancudos que observavam aquelas cenas com desaprovação (ou indiferença?), mães e pais animados acompanhando seus filhos em algum passeio familiar, casais esboçando carinho e união em momentos que eu confesso sentir certa inveja... Queria lembrar de tudo, a mente humana é falha, ou pelo menos a minha, Ela foca em coisas insignificantes, às vezes prejudiciais, e se esquece ou não é capaz de guardar pequenos cenários do cotidiano, pequenos fatores que tornam a cronologia do ser humano única. Me pergunto se a minha está sendo favorável. Se fosse possível revê-la em todas as suas características, eu estaria satisfeita? Na verdade, duvido muito. Sinto que, no caminho da vida, eu cai num buraco fundo que eu não consigo sair. O otimismo não me socorre, os bons momentos não me comovem, boas intenções passam despercebidas e a única capacidade que me restou foi a de guardar rancor, mágoa, ódio, tristeza. Peço constantemente perdão, não valorizo mais meus atos, quiçá minha existência. Não posso me deixar levar para tão fundo, quem garante que sempre será possível me resgatar? Tenho medo da profundidade, tenho medo da solidão, tenho medo da morte, tenho medo. Quero me livrar disso, desses demônios, desses tormentos, desse peso, quero ajuda, mas não sei de fato o que anda acontecendo. Sendo bem sincera, as coisas ultimamente terminam nisso: em um grande e inviolável ''não sei''. Escrevo por horas, converso por dias, penso uma vida inteira. Me sinto fraca, indefesa, ingênua, ignorante. Careço de atenção, mas me incomodo quando a tenho. Só desejo que as pessoas calem a boca. O que diabos ta rolando.
   Confecciono este devaneio no meio de uma aula. Absorvo absolutamente nada do conteúdo, é algo relacionado a aerofotogrametria, mas se olhei para as anotações da lousa 5 vezes foi muito. Não me surpreende quando a noite chega e eu sou tomada pelo sentimento de improdutividade. Mas afinal, estou sendo vítima desse infortúnio emocional ou culpada por estar cultivando isso? Poderia parar agora e prestar atenção na aula. Mas só penso em ir para casa e me isolar novamente, ou sair escrevendo até lá, inventando o que me distrair.
   Bom, já chega. Me falta repertório e conteúdo que não pertença a esse sentimento cíclico de auto-destruição.

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